REDE EMPRESA
RESPONSÁVEL
Governança Corporativa
Empresas que valem mais. Governança corporativa como valor econômico, social e de imagem
Por: Joana Bicalho Félix
O gerenciamento corporativo que leva em conta valores, tais como: liberdade de expressão; direitos humanos claros e estabelecidos; estrutura legal justa; transparência nas relações com os acionistas, clientes e fornecedores e respostas às necessidades dos consumidores ganha espaço no novo modelo de gestão que combina crescimento econômico com responsabilidade social.
A valorização da ética nas sociedades empresariais e na gestão governamental faz com que as empresas se adaptem a Governança Corporativa. Esta, nascida na América do norte e Europa no final da última década, avança a passos largos para todos os países como forma de atrair linhas de financiamentos e acionistas ou cotistas, que migram seus investimentos para corporações que não somente asseguram o lucro de capital, mas que garantem transparência, equidade e prestação de contas. Uma vez que estes cotistas ou acionistas não fazem parte da gestão do negócio, saber que a empresa na qual investe possui boa prática corporativa traz segurança, estabelece uma relação de confiança e atrai investimentos.
Como lembra o IBGC, Governança corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas, conselhos, diretoria e auditoria independente.
A Bovespa vê crescer ano-a-ano o Novo Mercado de transações na bolsa de valores, representado pelas empresas que já aderiram a governança corporativa. Este recebe investidores de todo o mundo que declaram preferir negociar papéis que possuem boa governança. As ações no Índice de Ações com Governança Corporativa valorizaram-se 27,2% ao ano, enquanto o Ibovespa cresceu 22,8%. A Natura viu, em dois anos, o valor de suas ações no mercado crescer de R$ 3 bilhões para R$ 10,5 bilhões.
A boa prática corporativa não diz, assim, respeito ao “coração das empresas”, mas às estratégias de solidez e conquistas a pequeno, médio e longo prazo. O objetivo é aumentar o valor da sociedade e de seu capital, com a adoção de práticas que contribuem com a sustentabilidade social e econômica do negócio, o que conseqüentemente traz benefícios à sociedade.
Os bancos ampliam linhas de financiamento e capital para empresas que comprovam possuir comportamento ético e transparente em suas relações. O fato garante ao agente financiador, menor risco na transação e no negócio do cliente. O mesmo se repete nos financiamentos em longo prazo do BIRD, IFC e FMI.Em seu livro Sem Logo – A tirania das marcas, Naomi Klein, mostra casos de renomadas marcas que, enquanto buscavam aumento de capital, pressionavam negativamente as sociedades, como o caso na Nike que “pagou 20 milhões de dólares para o jogador de basquete Michael Jordan ser seu garoto propaganda em um novo tênis, enquanto seus gastos não chegavam perto deste valor ao pagar 30.000 trabalhadores indonésios que fabricavam o produto”. A publicação pressiona a Nike a rever seus processos e cobrar de seus fornecedores posturas de responsabilidade social.
Outro exemplo que amplia e aguça a percepção e a cobrança dos stakeholders é o documentário, baseado no livro The corporation, de Joel Bakan que critica enfaticamente “empresas criadas com o objetivo único de tornar mais eficiente o acúmulo do capital, com dinâmicas próprias, que transcendem as vontades individuais de seus acionistas e executivos”.
Para garantir bons resultados, e diferencial competitivo, gestores se preparam para analisar não somente dados econômicos quantitativos, mas também qualitativos em relação ao desempenho das empresas.
Profissionais com conhecimentos técnicos e competência para a gestão dos negócios, conscientes da realidade global no que diz respeito aos aspectos sociais, econômicos e ambientais são recebidos em diferentes níveis decisórios das empresas. Estes se tornam patrimônio intelectual bem quisto por acionistas e diretores, vez que emanam segurança nas tomadas de decisão. Com o que eles devem estar atentos? Em estabelecer processos e procedimentos que asegurem o fim da corrupção e tratamentos imparciais; em promover o direito à participação e à liberdade de expressão; garantir o trabalho decente com proteção dos direitos humanos das pessoas envolvidas na cadeia de produção e distribuição, promovendo a igualdade e a inclusão. Devem estar atentos, ainda, ao estabelecimento de regras e regulamentos que garantam a transparência das relações. Devem emanar respostas aos diversos atores envolvidos na sociedade, bem como a seus consumidores e cidadãos. Devem democratizar as decisões, utilizando o diálogo e levando em conta avaliação de impactos em longo prazo. Deve criar mecanismos de auditoria e aferição de resultados, tornando públicas as informações a seus acionistas, cotistas e conselhos que serão afetados pelos resultados.
Uma nova ordem se estabelece: os gestores precisam como diz Peter Drucker, olhar além das quatro paredes. Fazer valer a ética empresarial por saber que, somente assim, pode-se construir uma imagem sólida, respeitada e consumida.
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